quarta-feira, 1 de outubro de 2014

"É engraçado pensar que no alto daquele cerro o tempo é um ser especial, ele vem e fica em você..."

Por Thiago Rodeghiero

De tantas coisas que vivi na vida a visita a cidade de Herval nos dias 27 e 28 de setembro de 2014 foram com certeza dois dias que nunca esquecerei. Que linda cidade, cidades que aos poucos estão parando de existir.

Herval não é apenas uma cidade de 1º (quando tu engata a 2º a cidade acaba, piada de meu avô), é uma cidade viva de história, parece que todas as histórias de peleia passaram por Herval e deixaram lá uma cicatriz e todos da cidade são parte dela, mas não sofrem por isso, aprenderam e lutaram para ter essa cicatriz, algo que fica difícil de compreender olhando de longe, apenas estando em Herval se pode perceber isso.

Herval não tenta disputar sua importância histórica riograndense, ela tem consciência que foi parte, e não precisa provar nada pra ninguém. Parece que ecoam em seus morros e cerros a história viva de todas as batalhas que ali passaram, parece que ao fundo ainda há um sentimento que Herval foi vitoriosa em todas elas.

Logo de chegada parece que Herval, mesmo reclamando que a cidade não cresce, tem orgulho de ter permanecida intacta aos tempos modernos. Chegamos na cidade e a companhia que administra a água e esgoto da cidade estava fazendo uma obra defronte a igreja da praça central e em todo o local que nos estávamos indo reclamavam o seguinte: "logo hoje resolveram cortar a água da cidade, agora nem dá pra fazer um chimarrão.".

Fico pensando que "Herval não cresce" não é uma reclamação da população e sim que isso é um certo orgulho de permanecer com essa essência tradicional (não tradicionalista, tradicional) a vida simples, onde todos são os mesmos e ninguém fica chorando pra lá e pra cá que está sem dinheiro e sem tempo, parece que dinheiro não é algo necessário, e, tempo, esse sim lá parece que passa com mais vontade.


É engraçado pensar que no alto daquele cerro o tempo é um ser especial, ele vem e fica em você, ele não escapa pelas mãos, ele te abraça e gosta de você, dá pra viver 3 vidas em Herval, que sentimento bom e adorável saber que a vida ainda tem sentido, e que a relatividade é sustentada com esse contraste temporal ali vivido.

A distância não parece ser problema, ninguém se cansa de ir longe, mesmo estando tão perto, lá a distância é valor, é saboroso contemplar da longe e tranquila paisagem que ali


paira. Parece que a tranquilidade e a qualidade do tempo vivido te contagia e a essência campeira entra em ti e a pressa não é mais tua amiga, ela te abandona no momento que entras nos cerros e morros.

O povo te olha nos olhos, aperta tua mão, te dá um sorriso feliz e sincero na primeira vez que te conhece, isso não se vê mais em local algum, isso faz refletir o quanto perdemos o contato com o próximo, o individualismo cotidiano nos sufocou a tal maneira que estranhamos essa hospitalidade e esse se importar com o próximo. Herval é essencialmente forte, aguerrida, brava, carinhosa e hospitaleira.

Se tem orgulho de ser verdadeiro e isso se reflete nos aspectos mais primordiais como a culinária, tudo com gosto e cheiro e sabores genuinamente reais, não se sente aspectos artificiais, e sim reais da vida.

"Das coisas que guardo na memória, Herval vai ficar no meu coração, não só por sua história, mas pelo apego dos que lá ficarão.' (meu singelo verso baseado nas rimas típicas gauchas).









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