terça-feira, 2 de setembro de 2014

Vó Amélia

-Eu sou de Soledade, nasci lá em 1930, no meu sangue corre uma mistura de Índio com Italiano. Quando me separei do meu ex-marido meu filho mais guri tinha um ano ele se chama Jairo, hoje ele tem 45, eu fui morar em Porto Alegre nesta época, na vila Jardim, trabalhava em casa de família.


-Eu escutava nas casas das patroas essas musicas antigas Altemar Dultra, Meu velho, Nelson Gonçalves, Hoje quem paga sou eu.
-Já dancei tango, mas tem ser com quem saiba me levar.
-Quando eu era jovem eu era calma, hoje mas se me tiram do sério eu falo...
-Quando alguém me pergunta como eu to, eu sempre falo que “to bem né”
-Eu já sofri tanto nesta vida...( pensativa, olhos profundos)
-A Maria tinha uma tintaiada, de madrugada um furão veio e matou 10 pinto. E fizemos uma panelada de polenta com um moio dos pinto.


-Mandei o Lucas levar um prato para a Maria.
-O meu vizinho tem um açude artificial, é de carpa, não precisa nem pescar é só colocar o dedo na água que o peixe vem e tu puxa para fora. Já comi, fritei com, um ovo. Peixe de açude não tem gosto nem um.
Obs Tatiana: A fala da morte é uma coisa natural nesta altura da vida, vida que se alimenta da morte.
Pela tarde falamos sobre uma saia que ela tinha, que era vermelha; Lembrei ela de que quando era criança tinha uma imagem dela com esse vestido vermelho e uma flor na cabeça.
-Tu podes ter sonhado eu não gosto de flor na cabeça.
-Essa saia deve estar lá na minha bagunça, faz um tempão que não vejo ela. Adoro vermelho, não sem porque, mas gosto;
Falei para ela que tinha um vestido vermelho e que se ela não queria colocar um para agente tirar um foto juntas.
Ela me disse -eu tenho um desta mesma cor tua; (fomos no quarto e ela puxou o vestido que hoje era mais conservador com um corte reto, mas vermelho intenso assim como minha vó usava antigamente ,estava muito quente, mesmo assim ela se propôs a colocar o vestido por cima do que já estava de flores banca e preta, fomos ao banheiro arrumar os cabelos ela com os cabelos brancos, os meus com alguns fios discretos, as duas com um sorriso maroto no rosto, fomos para frente da fazenda nos posicionar para tirar foto. Ela se posicionou com sempre faz porque para ela fotografia poderia lhe roubar a alma... Tiramos as fotos e foi divertido, o tempo começou a apresentar umas nuvens preta como uma onda e nós ali no meio do nada tirando fotos. Foi quando ela parou e disse que tinha que benzer o temporal que tinha muito respeito.
O temporal se aproximava;
 -Vou benzer o tempo que tá ficando ruim. ( Na beira da porta, faz um sinal com a mão direita de cima para baixo com a direita).
Eu com o vestido vermelho em meio ao começo da tempestade comecei a dançar desajeitada, mas me sentindo muito bem em estar naquele lugar fazendo um regate de memórias da minha vó. Dancei até que tive que parar pois os raios já estavam ficando mais constantes e o calor diminuindo.
Tomamos um café com cheiro de mato e um frescor no ar. Caindo a noite sem luz, ficamos até tarde a luz de velas conversando.
Passamos relembrando o tempo que passou e situações de vida e morte, antes que era em roda com muita gente hoje menor e com velas.
-Eu quase morri.
-Um dia, tava desnorteada tinha brigado com seu avô e sai para caminha quando encontrei a Nadir falei para ela o que estava acontecendo, ela  me levou em terreiro, lá nos Jardins. Cheguei lá as 08:00 e fui sair as 22:00 e mestre me disse que tinha que voltar mais três dias, eu falei para ele que não tinha dinheiro. Ele ainda me disse que eu ia conseguir, e que também tinha que levar três tiras de tecido coloridas.
-Mas eu to na casa da minha amiga, moro longe. Ele me disse que não tinha problema, que eu  ia conseguir, dito e feito a Nadir se ofereceu para me ajudar me pagando as passagens. Eu fui no terreiro nos dias que combinamos, o mais estranho aconteceu no ultimo dia, quando o mestre levou em minha cabeça um galinha e ele só colocou o bixo lá e so escutei um cócóricó e o bixo morreu. O mestre me disse que tinham encomendado minha morte, e em três dias eu ficaria sabendo quem tinha tentado fazer. Três dias passaram ai seu avô morreu, era ele que queria me matar.
-Fia agente não precisa fazer graça para o capeta rir, né?

Post por Tatiana Duarte

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